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quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Relato de parto - nascimento do Sergito

Olá, pessoal,

O que mais desejava neste momento da minha vida era ter o meu filho. 
Queria acalantá-lo, sentir o cheirinho gostoso do topo de sua cabeça, o calor do seu corpinho em meus braços enquanto amamentava, cafungar em seu congote. Porque, apesar da dor de algumas despedidas inesperadas – tive três perdas gestacionais, a vontade de vivenciar/experimentar esse momento nunca tinha deixado de existir. Pelo contrário, esse desejo só aumentava. Mas alguma certeza em mim dizia que esse momento grandioso aconteceria e por isso me preparei.

Dentre as minhas vontades e expectativas, queria dar à luz, queria parir, queria sentir o que o meu corpo foi preparado/construído/projetado para tal finalidade.

Como sou portadora de IIC – Insuficiência Istmo Cervical – fui cerclada com 13 semanas de gestação no Hospital Pro-Matre pela dra. Rosiane Mattar.

Com 37 semanas a mesma doutora retirou a cerclagem em seu consultório. Na ocasião, estava com 3 cm de dilatação, algo já esperado por nós devido à incompetência do colo uterino. Por causa disso e passado o risco de o bebê nascer prematuramente, a expectativa de um início de trabalho de parto era iminente. Mas, como aprendemos que nada está sob nosso controle, esperamos.




Com 39 semanas + 1 dia, após a minha consulta do pré-natal com a dra. Solange Cabral em 2/4/2015, as contrações ritmadas começaram. Estava com 5 cm de dilatação. Sabíamos que o trabalho de parto estava próximo mas... procuramos conter a ansiedade. Voltei para a casa andando, mais ou menos 3 km – 20 minutos – do consultório até a minha casa, a fim de estimular o trabalho de parto. Tudo tranquilo, tudo indolor.




A minha tia Nita cuida da gente e da nossa casa todas às quintas-feiras. E dia 2/4/2015 era uma quinta-feira. Acontece que essa minha tia, além de ser maravilhosa em todos os sentidos, é um poço de ansiedade. Bem, ela quase me enlouqueceu para eu ir para o hospital. Tentei convencê-la de todas as maneiras, entre uma contração e outra, que não era necessário ir ao hospital naquele momento porque se tratava de pródomos. Ela não tinha a menor ideia da minha pretensão em ter o bebê em casa.

Na verdade verdadeira, ninguém sabia de nossa intenção de ter um parto domiciliar. Alguns até desconfiavam, mas provavelmente não imaginavam que seguiríamos com essa vontade adiante. Para evitar transtornos e interferências negativas em nossa decisão, preferimos manter sigilo. Era um desejo nosso muito forte. Não fazia sentido para mim, por exemplo, ter o colo do útero frouxo e ser submetia a uma cesariana sem razão. Estudamos muito para não sermos enganados.

Pois bem... quando a minha tia foi embora, por volta das 16/17 horas, liguei para a doula, Julia Baggio, e contei sobre as contrações ritmadas (de hora em hora e depois de meia em meia hora). Imediatamente ela veio para a nossa casa e, antes, me aconselhou a ligar para a enfermeira-obstetra, Vilma Nishi, e para o chuchu. Até comentei dizendo que talvez não seria o momento e que eu talvez nem estivesse em trabalho de parto. Fiquei preocupada em acionar a equipe e de repente ser alarme falso. Nem imaginava que estava enganada... o nosso bebê já estava pronto para vir ao mundo.

Enquanto a doula e o chuchu enchiam a piscina (banheira), a Vilma Nishi pediu para eu me deitar no sofá para que ela pudesse medir a dilatação do colo. Ao me deitar, senti um desconforto/incômodo. Parecia que algo bem lá embaixo estava prestes a estourar. E estourou. A bolsa rompeu. Saiu um bocado de líquido. Nós quatro nos entreolhamos e rimos satisfeitos. Pela medição, estava com 8 cm de dilatação. E sem dor.

A primeira fase do trabalho de parto (dilatação do colo uterino) estava quase em sua totalidade às 21h30/22horas.

Estávamos confiantes de que tudo seria muito rápido. Estava tudo evoluindo muito bem.
Faltava pouco para ter o nosso bebê em casa.

Entrei na banheira. Sentia-me relaxada. Um pouco apreensiva, pois não fazia ideia do que estava por vir. Sensação estranha. O tal desconhecido assustador. E, embora estivesse confiante e certa do que queria, estava com medo.





A segunda fase do trabalho de parto (expulsão) foi avançando, com ela também veio o cansaço excessivo, o estresse, os conflitos internos, o medo, os pensamentos mais angustiantes e o meu maior desafio: EXPULSAR O MEU BEBÊ.


Ficamos aproximadamente 6 horas tentando encontrar a melhor posição para o momento expulsivo. Saí da banheira, fui para o chuveiro, deitei-me na cama com o chuchu, deitei no chão da sala, voltei para o chuveiro e repetia tudo novamente.
Fiquei nauseada. A parteira me deu água com limão... vomitei na hora.
Estava exausta. Aliás, estávamos todos.
Nesse momento me senti fracassada, parecia que não ia conseguir.




A obstetriz fazia o monitoramento constante dos batimentos cardíacos do bebê. E toda vez que ouvia o coraçãozinho dele bater me sentia aliviada. Agradecia “om namah shivaya”. 





O meu bebê queria nascer e, sim, eu queria expulsar. Juro. Não sabia o que fazer apesar de todas as tentativas. Isso era tudo muito novo para mim também. E a sensação de impotência quase me fez desistir.

A Vilma Nishi ficou preocupada com as condições do bebê, pois fazia um bom tempo que ele se encontrava no canal cervical, sugeriu que fôssemos ao hospital para terminar o que começamos. Faltava um triz para ele nascer. Eu senti. Coloquei o dedo lá. Sentia a cabeça cabeluda dele.

Fiquei aflita com a possibilidade de ir para o hospital.
Não queria. Juro. Não queria.
Palavras da parteira: 
“Não é o seu filho que nasce é você quem o expulsa, por isso essa fase se chama expulsiva”.
E como expulsá-lo? Eu não sabia fazer isso.
Que angustia.

Separando as malas para irmos ao hospital, senti outra contração forte e fiz força.
Muita força.

A obstetriz pediu para o chuchu me segurar por trás.
Ali, no nosso quarto, apertei-o com tanta força que parecia que ia quebrar o braço dele.
E gritei. Gritei bem alto. Berrei.

A Vilma Nishi lá no chão, eu e o chuchu entrelaçados, e a cabeça do bebê coroando.
Senti uma queimação. O famoso anel de fogo.
“Tá queimando. Tá queimando.” Eu gritava.

Aconselhada, deitei-me no chão sobre o lençol descartável.
Fazia muita força e em alguns momentos a parteira pediu para eu diminuir a intensidade para não lacerar o períneo. E então ela passava uma espécie de óleo.
Lembro-me que eu pedi para ela me ajudar. Não sei por que pedi isso. Acho que sentia 
medo.

Às 2h40, madrugada de 3/4/2015, sexta-feira, no nosso quarto: RENASCI.
MEU FILHO NASCEU. EU O EXPULSEI.
PARI. CONSEGUIMOS.

Finalmente sou mãe com o meu bebê sobre o meu peito, embalado em meus braços. Veio ao mundo sem cortes, sem drogas para dor, sem medicamentos para indução, com vérnix, com períneo íntegro, com a presença do pai. Veio com amor. Contra as falácias do sistema, empoderamos como queríamos.


E mais do que isso, o chuchu disse que o pós-parto e o nenê perfumaram o nosso lar.
Quanta alegria. Que felicidade.

Estava ainda no chão, sentia muito frio e ainda faltava a última fase do parto que é a dequitação (expulsão da placenta). A Vilma Nishi começou a puxar a placenta e eu gritei. Pedi para parar.
Estava dolorida e eu e o chuchu tínhamos conhecimento de que a placenta sairia sozinha.
Ela insistiu, disse que eu correria o risco de hemorragia caso não tirasse a placenta. Pedi para ela parar. 





Conduziram-me para a cama e eu ainda estava com o bebê em meus braços. A parteira me ajudou a dar o peito. 






Nesse momento o chuchu cortou o cordão umbilical e a última fase do trabalho de parto ainda não tinha terminado, ou seja, a placenta ainda não tinha saído.

A parteira foi colocar uma roupinha no bebê junto com o chuchu.
No momento em que ela se distanciou, a placenta começou a sair sozinha.
Ou seja, não precisava puxar.
NÃO PRECISAVA PUXAR.

A Vilma Nishi foi embora. Logo em seguida a Julia Baggio foi também.

Estava cansada. Muito cansada. Meu corpo pedia cama.
Adormecemos nós três, eu, chuchu e o nenê, naquela manhã que amanhecia silenciosamente.


OBS.: tivemos o apoio incondicional de nossas queridas gatinhas. A Aretha tem medo de sangue e não é muito sociável e ficou o tempo inteirinho escondida. Já a Donatella, muito curiosa, acompanhou tudo de pertinho e foi a primeira a me dar beijinhos e os parabéns pelo nascimento do nenê. Meaw. =ˆ.ˆ= =´.´=



4 comentários:

  1. Estou muito emocionada! Inexplicável dizer o que sinto ao conhecer detalhadamente como foi a "expulsão" e nascimento do Serginto e seu nascimento como mãe. Ainda não o conheço pessoalmente (me desculpe, por não tê-loa visitado ainda), mas minhas boas energias e pensamentos sempre são voltados para vocês.
    Beijos,
    MR

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  2. Bom dia

    Sua história é D+

    A Dra Rosiane mattar , só faz cerclagem particular???

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    Respostas
    1. Oi, Rose. Sim, a dra. Rosiane somente particular. Ligue no consultório dela e pergunte. Quem sabe ela possa te orientar melhor?

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  3. Linda historia perfeita , me acalmou muito perdi meu terceiro filho a três meses da mesma forma , me desesperei ate que veio o diagnóstico , o medico me confortou me explicou mas o medo bate na porta , mas vendo isso que uma mae que vivenciou de uma forma tao perfeita não tem preço parabéns e obrigada pela historia maravilhosa e o conforto que me deu .

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